segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

História e criação de empreendedores

 
 
Pretendo mencionar uma estratégia distinta e complementar a esta profusão de incubadores de várias índoles, locais, tradicionais ou de base tecnológica.
 
Muito recentemente, podemos ler duas notícias, uma em Detroit e outra bem perto, no Douro, em que se procuravam atrair pessoas com talento para viverem no seu território e assim potenciarem as denominadas externalidades positivas.
 
Talento, empenho, competências, capacidade, liderança, resiliência, vontade, são factores que determinam a criação de riqueza.
 
Muitas vezes, procuramos investimento, sem antes nos preocuparmos que deveremos ver onde estão as pessoas e como as chamar.
 
Já há anos, numa sessão da APGEI, tímida e nervosamente, lancei a seguinte questão ao então Presidente da API, tão mal extinta por este Governo com a sua confusão com o ICEP, o AICEP:
 
" Mais do que trabalhar com investimento externo, eu tenho trabalhado com investidores externos, porque de pessoas se tratam. E essas pessoas procuram em Portugal sobretudo know-how, que na prática são pessoas, competentes. Essas pessoas que eu conheci, que estão a investir de forma espontânea em Portugal, não o fazem por causa de incentivos financeiros e fiscais.
 
As minhas perguntas:
 
- porque não desfocalizar da oferta de incentivos mas procurar as vias para que essas pessoas gostem do nosso país e cá queiram investir?
 
- depois, temos de lhes dar esse know-how que eles procuram, que está a germinar nas nossas universidades, que são excelentes?
 
- o resto do dinheiro ficaria para os pequenos projectos de empresários nacionais, sob a figura do private equity, apoiando a 100% mas recolhendo o retorno para auto-sustentação do modelo de financiamento.
 
Basicamente, não acham que se tivermos muitas pequenas empresas, as grandes chegam a seguir?"
 
O que nos mostra a história em pequenos exemplos.
 
Em termos históricos, os grandes mestres já surfavam na onda da globalização há mais de 3 séculos.
 
Por exemplo, a Suécia possuía muito minério de ferro, água para eixos motrizes, florestas para fazer carvão, mas não tinha mão de obra que dominasse a técnica da forja, da produção efectiva.
 
O rei, então, mandou buscar centenas de famílias à Bélgica, os Valões.
 
Moveleiros famosos da corte de Luís XIV foram importados por Catarina, a Grande, da Rússia.
 
Essa importação de mestres garantiu a esses países distantes, frios, e até então pobres, produzir armas, ferramentas de trabalho, carroças, embarcações melhores do que os vizinhos, etc., o que resultou na conquista de enormes extensões de terras.
 
A Suécia dos anos 1750 ia do topo da Escandinávia até ao Norte da Itália e da Turquia. A Rússia, pouco depois, tinha a mesma extensão, chegando onde hoje é a Alemanha, no Ocidente e à Sibéria e Mongólia, no Oriente.
 
Muitos artistas e cientistas, que tornaram possível o domínio de outros povos, eram estrangeiros, como Américo Vespúcio, italiano que trouxe terras americanas para a coroa espanhola;  De Geer, belga que trouxe a mestria da forja para a Suécia; Leonardo da Vinci trouxe a anatomia e avançados cálculos de pontos para a França.
 
Discípulos de Américo trouxeram para a Espanha ouro e prata, o que permitiu a riqueza dos museus e prédios, e mais tarde centenas de hotéis que hoje atraem milhões de turistas.
 
Os discípulos de De Geer forjaram os canhões que conquistaram meia Europa, de onde trouxeram tesouros e os profissionais, que transformaram aquele minúsculo e pobre país numa grande potência industrial.
 
Os sucessores de Da Vinci fizeram as pontes que logo unificaram a França, permitindo uma eficiente rede de estradas e de canais, condição para a rápida expansão da sua agricultura.
 
A existência de bons profissionais era tão vital para o progresso das aldeias que ainda hoje corre uma história de que, numa vila da Noruega, onde haviam dois padeiros e um só talhante, esse cometeu um crime, sob a vista de um padeiro. Um teria uma pena de oito anos de prisão e o outro apenas seis meses. Pois o juiz, para não prejudicar a aldeia, condenou o padeiro a oito anos e o talhante ficou com os seis meses, porque sem o único, a aldeia não conseguiria subsistir.
 
Gomes de Pinho: "Atrair talento é mais fácil do que atrair investimento. Portugal pode tornar-se num paraíso para a criatividade, através da fácil concessão de vistos para os criadores artísticos, legislação avançada de direitos de autor, criação de casas para artistas, atracção do talento através de uma fiscalidade das actividades artísticas".  
 
 Será a criatividade e actividades de economia de proximidade, como os cuidados de saúde, que vão recuperar a economia. Daí a importância de políticas de distribuição de rendas que assegurem a existência de uma classe média. Por isso é que Barack Obama aumenta o salário mínimo em 25%. Esta é a forma certa de lidar com a globalização e a destruição dos empregos tradicionais.